Com uma expectativa de vida de 35 anos, nem toda a população de travestis, mulheres transexual e homens trans brasileiros pensa na possibilidade de envelhecer. Mas isso não quer dizer que a terceira idade não ocorra para a população trans.
No Brasil, há vários exemplos de ativistas e militantes que sobreviveram a ditadura e conseguiram chegar aos 60 anos (relembre a entrevista Anyky Lima e Sissy Girl clicando aqui e aqui). Nos EUA, é mais comum se deparar com uma pessoa trans idosa.
Tanto que estima-se que pelo menos metade da população trans dos EUA esteja acima dos 50 anos. E foi atrás delas que a fotógrafa norte-americana Jess T. Dugan foi atrás para um ensaio fotográfico chamado “To Survive on This Shore” (“Sobreviver nesta Costa”, em português).
Kedrah, 72 |
Ao Fusion, a fotógrafa disse: “Eu queria fazer retratos de pessoas transgêneras e com variação de gênero mais velhas, um grupo que raramente é visto, a fim de compartilhar suas histórias e estimular o diálogo e a compreensão”.
As fotos foram desenvolvidas em parceria com Vanesa Fabbre, professora na assistência social na Washington University, e que desenvolveu uma tese sobre o assunto. Elas mostram pessoas acima de 50 anos em seus cotidianos. Algumas ultrapassam os 80 e chegam aos 90. E mais: são entrevistadas contando sobre suas vidas e sonhos.
Bobbi, de 83 anos, por exemplo, declarou que chegou ser uma veterana do programa de drones. “Quer dizer, eu joguei golf com presidentes, com Jerry Ford e com certeza me encontrei com o Bush pai, Bush filho e Reagan algumas vezes. Eu já estive na Casa Branca. Eu já andei pelo Pentágono, em todos os andares. E também já trabalhei extensivamente na CIA”, revela.
Helena, de 63 anos, declarou que se sente muito sozinha, isolada e que ainda se surpreende com a transfobia. “Estava trabalhando no escritório que compartilho com minha companheira de quarto. Estávamos falando sobre afrontamentos e ela disse: “Se você fosse mulher de verdade, você entenderia”. Pensei: Uau, isso é profundo, eu moro com essa garota. Sete anos, e ela ainda não entendeu”. Mas deixou isso de lado. “Você tem que ter um senso de humor e escolher suas batalhas com cuidado, porque elas têm ramificações emocionais que produzem esse estresse. E eu tento reduzir o estresse. Não é produtivo”.
Já Mickey, de 60 anos, afirma que atualmente pode ser menos traumático ser trans. Ele lembra das vezes em que se sentia diferente dos vizinhos. “Eu tinha 10 ou 11 anos e estava no boxe. E os meninos disseram que eu tinha que tirar a camisa. E foi nesse momento que eu percebi: “Não, não devo fazer isso”. Eles podiam, mas eu não podia. E foi realmente desanimador. Fiquei com raiva de não poder fazer o que eu queria e de não poder ser quem eu era. De repente, a puberdade estava se instalando e isso tudo mudou”. Após as batalhas, ele se vê empolgado com Laverne Cox na capa da Time.
Quando era adolescente e apanhou na rua, Michelle-Marie, hoje com 62 anos, escutou da mãe: “Se você não fosse assim, nada iria acontecer”. Ela saiu de casa duas semanas depois da formatura da escola. Antes da transição, chegou a se casar com uma mulher, ter ter filhos e trabalhar como administradora de um programa. Quando o pai faleceu, em 1998, disse que teria que tomar algumas decisões. Certa vez, o terapeuta perguntou: “Que tipo de mulher você quer ser depois da transição?”. E ela respondeu: “Eu não tenho que pensar sobre isso. Eu sempre fui aquela mulher”.
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