Militantes trans mostram visibilidade, arte e resistência na 20ª Parada Livre de Porto Alegre admin Outubro 13, 2018

Militantes trans mostram visibilidade, arte e resistência na 20ª Parada Livre de Porto Alegre

Por Neto Lucon
Foto: Cris Gross Moraes

A 20ª edição da Parada Livre realizada no Parque Farroupilha, a Redenção, na região central de Porto Alegre, reuniu cerca de 20 mil pessoas nesse domingo (13), informou a Brigada Militar. E foi exemplo de resistência LGBT e também de visibilidade trans.

Inspirados no tema “rompendo normas, conquistando territórios”, diversas pessoas LGBT foram ao evento, ocuparam as ruas, se divertiram e militaram às suas maneiras. Não foram registrados incidentes.

Dentre a população trans que esteve no espaço, a cantora trans Valéria Houston animou o público diretamente do palco, enquanto os militantes Eric Seger, Vincent Goulart, Rafael Soares, Taylor Rodrigues, Lucas Veiga, Leonardo Flores, Paulo AbdelMasihh, dentre outros, promoveram pela segunda vez a visibilidade dos homens trans na Parada.

Eles são membros do Ibrat – RS (Instituto Brasileiro de Transmasculinidades do Rio Grande do Sul) – e levaram a mensagem de visibilidade, harmonia e empoderamento por meio de seus corpos, do discurso, da camiseta que representa o símbolo dos homens trans e da faixa: “Homens trans, Juntos somos mais fortes”. Apoiadores foram com a camiseta “E se eu fosse trans?”.

“Nosso bloco teve um efeito muito intenso, tanto para os homens trans que foram quanto para aqueles que viram o bloco passar ou viram nas fotos. Deu uma sensação muito legal de unidade, de que somos todos um. É como se, além das nossas particularidades e identidades pessoais, nesse movimento nós representamos somos iguais, um coletivo e representamos a identidade política de homem trans. E que isso nos unia”, declara Eric ao NLUCON. 

A ativista trans Marcia Leal organizou um bloco em que a população trans foi vestida de borboleta – animal bastante simbólico ao grupo trans devido ao processo de transformação.

“Como algo tão lindo como as borboletas, com significados tão variados, podem ter uma vida tão curta. Imaginem a intensidade como as mesmas vivem, talvez por isso tenham ganhado asas. Qualquer semelhança com nossa comunidade LGBT não é mera coincidência com a realidade’, disse.

A militante Duda Barreto declarou que foi emocionante participar do bloco, sobretudo ao sentir o carinho das crianças. “Foi muito bom sair do foco da sexualidade e ver poucos homens assediar, como acontece sempre. Com a fantasia são mais famílias e crianças que nos abordam, é muito gratificante”, declarou ao NLUCON.

A iniciativa de Marcia é recorrente nos últimos anos. De maneira lúdica, ela leva a diversidade trans para a Parada, aproxima os curiosos e combate a transfobia. Em 2013, ela organizou o Mágico de Oz, em 2014 trouxe os Flinstones e no último ano fez um bloco repleto de princesas da Disney trans.

Outras pessoas militaram e se divertiram de maneiras particulares. Houve quem fosse com fantasias, com grandes produções ou não. Houve quem participou calado ou que levantou faixas (como a “Você não precisa ser gay para apoiar a Parada LGBT, você só precisa ser humano” ou “A bancada evangélica não me representa”). Houve quem foi acompanhado ou que encontrou um parceiro na Parada.

E quando se fala em direitos, a reivindicação apontada pela mídia local é o Estatuto da Diversidade, projeto de lei de iniciativa popular proposto pela OAB, que precisa de um milhão de assinaturas para chegar ao Congresso (saiba mais clicando aqui). “Nós não temos nenhuma legislação, o que nós temos são decisões judiciais, E isso vem de um histórico que vem garantindo esses direitos a esses segmentos da sociedade. Mas nós precisamos de leis para dar uma garantia maior e que possamos coibir o preconceito”, declarou Leonardo Ferreira Melo Vaz, da comissão da Diversidade Sexual da OAB-RS, à Globo.

Nah lembrou das derrotas nas últimas eleições

Nah Coelho participou ao lado de algumas amigas, mas afirma que, apesar de a Parada Livre ser uma festa, ela precisa ser aliada sempre na luta, no orgulho e na visibilidade. Ela compara, por exemplo, à falta de representatividade política.  

“Vinte mil pessoas na Parada Livre festejando – inclusive eu – e na última eleição nenhum candidato foi eleito para representar a comunidade LGBT. Bradar aos quatro cantos por direitos e pedir representatividade atrás de trios elétricos não nos dará a liberdade que tanto buscamos. Precisamos fazer mais que isso”, defendeu.

A organização afirma que o objetivo da Parada é proporcionar a ocupação do espaço público por pessoas discriminadas devido a sexualidade e identidade de gênero. “Para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, colocar-se de forma pública perante a sociedade como esse evento faz, expressa um valor e um poder simbólico que transformou a Parada num dos momentos mais importantes na cena política de Porto Alegre”, diz o manifesto divulgado pela organização.

O evento é organizado pelas entidades Nuances, Liga Brasileira de Lésbicas – RS, Coletivo Feminino Plural, Comissão Especial de Diversidade Sexual e Gênero da OAB-RS, Mães pela Diversidade, UJS Porto Alegre e UNA LGBT Rio Grande do Sul.