O grupo Mães Pela Diversidade de Pernambuco fará neste sábado (26), às 15h, uma Caminhada Pelas Vidas Trans em alusão ao Dia da Visibilidade Trans, em Recife. A Caminhada, que sairá da Praça do Derby sentido Rua da Aurora, tem como tema “Meninos de Rosa e Meninas de Azul, nossos filhos livres para usar o que quiserem e amar quem bem entenderem”.
O tema faz menção ao discurso da ministra dos direitos humanos e pastora Damares Alves, que declarou que o Brasil vive uma nova era, com “meninos vestindo azul e meninas vestindo rosa”. Na ocasião, Damares disse que a luta era conta a ideologia de gênero, expressão utilizada para combater os direitos das pessoas trans.
Segundo Gi Carvalho, coordenadora do Mães Pela Diversidade e mãe da Suanne Carvalho (que é lésbica cis), a proposta é que mães, filhos e todos da sociedade civil saiam juntos para sensibilizar a sociedade e protestar contra o discurso da ministra. “Tudo que nossos filhos não precisam é ter sua existência atrelada a uma cor. Não queremos mais perder para o preconceito. Precisamos valer o lema de que ninguém solta a mão de ninguém”, declara.
Ela diz que atrelar cor a gênero e a sexualidade estabelece padrões de opressão, de negação e que causa muitos dores. “A família que acolhe um LGBT não limita seu amor ao que eles vestem ou a cor que eles usam. A liberdade é plena e integral. Ser e viver o que puder e quiser. Criamos filhos, personalidades, seres de caráter, de sentimentos e que tem direitos. O que importa é que eles são e não o que eles vestem. Desconstruir padrões tem libertado muita gente preconceituoso”, diz ao NLUCON.
Gi Carvalho: “O que importa é o que nossos filhos são, e não o que eles vestem”
Para o ativista trans, pesquisador e estudante Leonardo Tenório o discurso de Damares trata-se de uma tentativa de distração calcada no preconceito. “Ela está distraindo o povo com problematizações simples, comuns, para poder distrair a esquerda, atuando contra os direitos LGBT, enquanto as outras coisas que o governo Bolsonaro sempre quis fazer estão acontecendo. Esta coisa de rosa e azul até mesmo as pessoas conservadoras não ligam mais, se a menina está de azul ou o menino de rosa”, declara.
LUTA CONTRA VIOLÊNCIA E VIOLAÇÕES
Gi afirma que há uma onda crescente de violência e de ódio no Brasil e no nodeste, o que faz muitas pessoas LGBT, sobretudo trans, serem assassinadas. “De sexta-feira pra cá, várias mortes ocorreram. Tivemos um suicídio duplo de um casal trans não-binário. Hoje tivemos uma menina trans de Recife Assassinada. Temos diversas crianças trans no grupo e mães estão assustadas”, lamenta..
O pesquisador ressalta que a população trans ou travesti que está mais em risco é aquela que acumula diversos marcados sociais de vulnerabilidade. “Crianças LGBT estão em risco, as pessoas trans que estão sendo encarceradas estão em grande risco sobre seus direitos humanos, aquelas que acumulam fatores como deficiência, negritude, pardo, indígena. Essas pessoas são as que estão mais em risco de sofrer violência e ausência de direitos”.
Leo frisa que a data serve para a população refletir, debater e combater as vulnerabilidades que a população passa pela sociedade em função da transfobia, que é derivada do machismo. “Nós, da população trans, sofremos prejuízos graves com a nossa saúde física, psíquica e social. Sofremos demissões, desemprego, fome, estupros, assassinatos, espancamentos no meio da rua, expulsão de casa pela família, abandono nos ambientes religiosos, evadidos das instituições de ensino”.
Leonardo Tenório: “Transfobia é derivada do machismo”
É por isso que, quem estiver em Pernambuco, não pode deixar de participar da caminhada e fortalecer a luta contra a transfobia e em prol dos direitos das pessoas trans e travestis. Você pode confirmar sua presença clicando aqui.
Vale lembrar que o grupo pede para que as pessoas vão vestidas de azul e rosa. Para além de uma resposta ao conservadorismo, as cores azul, branco e rosa são as cores da bandeira das pessoas trans.