Os dois homens cis acusados de matar o vendedor ambulante cis Luiz Carlos Ruas – Índio, de 54 anos, no dia 25 de dezembro de 2016, no metrô Dom Pedro II, em São Paulo, foram condenados na última quinta-feira (13) pela Justiça a 15 anos e três meses de prisão.
O caso se tornou nacionalmente conhecido, pois Luiz Carlos foi violentamente agredido e morto depois de defender duas travestis, que estavam sendo perseguidas pelos réus Alipio Rogério Belo dos Santos, de 26 anos, e Ricardo Martins do Nascimento, de 21. Tudo foi registrado por câmeras de segurança e fotos.
Após as travestis conseguirem fugir, passando por debaixo da catraca do metrô, foi o vendedor ambulante que se tornou alvo da violência. Ele também tentou fugir dos ataques, mas caiu em frente de uma bilheteria e foi atingido por socos e pisões. Os homens espancaram Índio por 18 segundos, saíram do metrô, mas voltaram para mais agressões de 23 segundos. Não havia nenhum segurança no momento do ataque. Ruas foi socorrido após a violência, mas morreu no hospital do Servidor Público Vergueiro.
Os réus, que tiveram prisão decretada poucos dias após o crime, passaram por júri popular na última semana por dois dias e foram considerados culpados pelo crime. O juiz Roberto Zanichelli Cintra, da 1ª Vara do Júri no Fórum Criminal da Barra Funda, determinou que a dupla ficará em prisão em regime fechado por homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima. Os dois já estão presos, mas podem recorrer da decisão.
Vale informar que a Justiça também determinou que o Metrô pague pensão mensal de R$ 2.232,54 para mulher do ambulante. Este seria o rendimento médio de Luiz Ruas, que trabalhava há mais de 20 anos vendendo salgados e bebidas na saída de uma passarela para pedestres do lado de fora da estação onde foi assassinado.
Segundo o Tribunal de Justiça, o valor estipulado, que corresponde ao rendimento médio do vendedor e deverá ser depositado todo dia 20 de cada mês, já a partir de janeiro, sob pena de multa. Cabe recurso da decisão.
Alipio Rogério Belo dos Santos, de 26 anos, e Ricardo Martins do Nascimento, de 21, condenados pelo assassinato de Luis Carlos Ruas
Após o crime, diversas manifestações contra a violência, o preconceito e em prol de justiça marcaram a Estação Pedro II. Um deles foi organizado pelo Catso (Coletivo Autônomo Dos Trabalhadores Sociais) e pela a Pastoral do Povo de Rua, e contou com a presença de familiares, grupos LGBT e outros coletivos.
A travesti Sabrina Aquino, que foi salva por Índio, esteve presente com uma folha escrito Justiça. O caso evidenciou que a intolerância atinge a todas as pessoas, até mesmo quem não é LGBT, mas que protesta contra o preconceito e a violência. Nas redes sociais, Índio recebeu homenagens e agradecimentos por não ter se calado diante do preconceito.
Marisa Souza Santos, a esposa da vítima, declarou na época do crime que “essa não foi a primeira vez que Ruas agiu em favor dos moradores de rua da região”. Ela contou que ele acordava cedo todos os dias e dava café da manhã para eles. “Quando tinha dinheiro, ainda comprava marmitex e as distribuía”, declarou. “Hoje morreu dando a vida para outra pessoa”, lamentou.