Um manifesto escrito por um grupo especialistas foi lançado neste mês para defender os programas HIV e aids no Brasil. Elaborado pela Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), o texto encaminhado ao Ministério da Saúde visa evitar retrocessos nas políticas envolvendo tratamento e prevenção.
A preocupação se dá pelo teor do governo conservador e os pensamentos do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Ele declarou que tem ressaltas quanto as campanhas de prevenção ao HIV, pois “sexualidade deve ser discutida em casa”. Por enquanto, Mandetta manteve nos 100 dias que assumiu a pasta as execução de políticas que estavam em andamento, mas já teve ações que desagradou a ala de médicos e especialistas.
O ministério desonerou a diretora do departamento Ists e hepatites virais, Adele Benzaken. E fez, durante o carnaval, uma campanha de prevenção direcionada ao público masculino, sem qualquer tipo de recorte ou especificidade, focando apenas no uso do preservativo, sem qualquer outro tipo de estratégia de prevenção. Para o presidente da SPI, Eduardo de Medeiros, a campanha foi modesta, mas ela já está há alguns anos aquém do que gostariam.
No texto, os especialistas apontam para os dados positivos no combate à epidemia nos últimos anos, mas destacam o crescimento em populações específicas, bem como os mais jovens. Solicitam que programas, políticas e estratégias que estão sendo bem-sucedidas sejam mantidas, e não encerrada com o discurso de cortes orçamentários.
O documento reitera a importância de se identificar o perfil epidemiológico atual e desenvolver políticas de prevenção e cuidado. Embora o número de novas infecções tenha caído no sul e sudeste, ela aumentou nas demais regiões. A taxa de detecção do HIV também caiu desde 2012 em relação à população geral, por exemplo, mas o número é alto entre gestantes e crianças. Populações como profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens e travestis também estão sendo negligenciadas em suas especificidades.
Medeiros declara que é importante que o governo baseie as ações em evidências científicas, não em questões morais. “É cedo para prever que rumos o ministério da Saúde deve tomar. Mas esse é um governo conservador. E tememos que isso possa representar algum retrocesso”, declarou ao jornal O Globo.