Ao escutar pessoas LGBT ou não falando sobre a infância, é comum relatos de experiências traumáticas baseadas nas divisões desenfreadas de gênero. É um rapaz cis que diz ter sido proibido de brincar de boneca, porque se trata de um “brinquedo de menina”. É uma mulher cis que foi proibida de jogar bola, porque é “coisa de menino”. É uma travesti que sofreu violência porque colocou um vestido da mãe.
+ Homens trans falam de seus sonhos e pesadelos na infância
Apesar de serem disseminas como verdades absolutas, estas divisões de gênero não tem absolutamente nada de biológico, tampouco tem relação com o genital (afinal, qual é a relação de um vestido ou da cor rosa com o que temos entre as pernas?). Trata-se apenas de um controle social e de uma repressão baseada no preconceito, que na vida prática causam dor e desrespeitam a individualidade.
É importante frisar que, ao permitir que o filho adentre no “proibido e ultrapassado campo do gênero oposto”, não significa que ele seja gay, hétero, lésbica, bi (…) ou que haja estímulo para que seja uma travesti, mulher transexual ou homem trans. O universo infantil é rico, plural e experiências como brincar de boneca podem ensiná-lo a ser, por exemplo, um bom e cuidadoso pai. E usar um vestido, mostrar que ser mulher não é motivo de piada. Além de evitar dores e marcas pela repressão.
E, caso ele seja LGBT, qual é o problema? Colocar a diversidade sexual e de gênero como uma questão problemática revela preconceitos internalizados e também a incapacidade de amar incondicionalmente.
+ Travestis e mulheres transexuais revelam experiências de crianças
Mas nem tudo são lágrimas ou berreiros. Há vários pais que, diante da vontade dos filhos, superaram as amarras de gênero e deram um verdadeiro exemplo de amor. O NLUCON selecionou alguns deles. Raparem que a felicidade está estampada em cada rostinho. Confira, compartilhe e se inspire:
FUI PARA A CRECHE DE VESTIDO
O canadense Nils Pickert chamou a atenção da mídia internacional ao lidar tranquilamente com a vontade do filho de 5 anos de usar vestidos. Ele permitiu: “Sou daqueles pais que tentam educar os seus filhos de maneira igualitária. Não sou um desses pais acadêmicos, que se prende na questão do gênero do filho e o coloca em papeis pré-determinados. Sou parte da minoria que luta pelo diferente”. Mas o preconceito de coleguinhas de escola bateu à porta e foi quando a criança perguntou chorosa ao pai: “Papai, quando você vai sair comigo usando saia?”.
“No dia seguinte, peguei um vestido no armário, desses que são usados apenas nos fins de semana. E fui para a creche. Uma mulher que andava de bicicleta perto de nós nos encarou tanto que trombou com um poste. Meu filho caiu na gargalhada. Me senti realizado”. Agora, Nils é o modelo de pessoa livre que o filho quer seguir e diz: “Ele ri quando outras crianças tentam diminuí-lo e responde: ‘Vocês simplesmente não usam saias e vestidos porque seus pais não têm coragem de usar”.
MEU FILHO QUER UMA BONECA
Após o aniversário do filho de 4 anos, o norte-americano Mikki Willis foi a uma loja de brinquedos com Azai e o outro filho de 1 ano para que eles trocassem alguns brinquedos repetidos. A surpresa surgiu quando o filho pediu uma boneca Barbie sereia. “Agora, como você acha que um pai se sente quando seu filho escolhe isso?”, diz o pai em um vídeo divulgado no Facebook. “Yeah”, grita ele, mostrando consentimento. “Eu deixo meus filhos escolherem a vida que quiserem. É assim que a mãe deles e eu pensamos. Eles podem ser o que quiserem que eu vou amá-los e aceita-los independentemente”.
A ideia, segundo ele, é que os filhos não tenham suas sexualidades ou personalidades reprimidas. “Azai fica igualmente fascinado com princesas e com robôs. Em alguns momentos, ele é um garotão e, no próximo, ele expressa um lado mais sensível e angelical. Para mim, esse comportamento é mais autêntico do que tocar uma nota só o tempo todo”.
ELAS QUEREM JOGAR BOLA
Os pais de Alice de Souza, de 9 anos, e Thalita Linhares, de 12 anos, até tiveram resistência quando as filhas disseram que sonhavam em ser jogadoras de futebol. A desculpa era a preocupação em se machucar. Mas a vocação das meninas, mesmo num universo tão machista e considerado masculino, falou mais alto. Elas jogam na escola de futebol do time argentino Boca Junior, que tem 350 meninos matriculados, e são as únicas representantes mulheres em campo.
Com o apoio dentro de casa, elas acabam superando as adversidades com os rapazes: “Os meninos sempre acham que são melhores que as meninas, mas, se a gente treinar, podemos ser melhores que eles”, diz Thalita. Já Alice destaca que durante os treinos os jogadores não tocam a bola para ela. “Daí eu me esforço para marcar mais e tentar recuperar a posse de bola”. Sobre o futuro, elas cogitam se manter em campo, mas também serem atrizes ou veterinárias.
PAIS ANTENADOS
A garçonete norte-americana Liv Hinickla, que é uma mulher transexual, revelou em seu Facebook uma experiência que considerou um bom exemplo. Quando ela estava trabalhando, um pai se aproximou e perguntou: “Minha filha acabou de perguntar se você é menino ou menina. Eu não queria falar por você, então você gostaria de falar com ela?”. A garçonete foi até a pequena, elogiou a fita que estava no cabelo dela e disse: “Todos podem ser tudo o que quiserem no mundo e tem de ser a melhor pessoa possível para a família, amigos e estranhos”.
“Então, respondendo à sua pergunta: disseram para mim que eu era menino quando era pequena e agora vivo a vida adulta como menina. Soa complicado, mas é muito simples. Você tem outra pergunta?”. A criança a olhou sorrindo e disse que não. “Eu me afastei da mesma me sentindo muito bem por existir pais que não fogem de lidar com assuntos possivelmente difíceis com seus fillhos. E mostrar que dar às pessoas o poder de declararem suas verdades nesse mundo tão complicado é lindo e acolhedor”.
A FANTASIA DE FROZEN
Quem disse que apenas as meninas podem sonhar e se contagiar com a febre Frozen? O pai norte-americano Paul Henson permitiu que o filho Caiden fosse a uma festinha de Halloween vestido da princesa Elsa, personagem do filme infantil. “Todos que nos conhecem sabem que, geralmente, deixamos Caiden fazer as próprias escolhas. Bem, ele decidiu a fantasia de Halloween. Ele quer ser a Elsa”, escreveu em seu Facebook. Após a repercussão na internet, ele desabafou: “Mantenha suas besteiras sobre masculinidade para você. Halloween é sobre crianças fingirem ser seus personagens favoritos. Então, nesta semana ele é uma princesa”. Ficou mega fofo!
O MELHOR PAI
Rob Chillingworth foi chamado nas redes sociais como “o melhor pai do mundo”. Tudo porque ele aceitou o convite da filha de acompanhá-la em uma apresentação na escola. Enquanto a filha foi vestida do boneco de neve Olaf, o pai topou ir vestido de Elsa, do filme Frozen. E, detalhe, percorreu toda a cidade com a fantasia. O único problema visto por ele foi ter que mandar fazer o vestido, pois não encontrou nenhum do seu tamanho. Que maravilhoso!
CONTRA A SOCIEDADE CISNORMATIVA
Angelina Jolie e Brad Pitt nunca colocaram objeções em permitir Shiloh, de 9 anos, que foi designada mulher ao nascer, usasse cotidianamente roupas consideradas do universo masculino. Brad contou uma situação à Oprah: “Se eu digo: Shi, você quer… ela me interrompe e diz “John. Sou John.” “Então eu digo: ‘John, você quer suco de laranja?’ Aí ela responde: Não!”.
Atualmente, o casal procurou um especialista para saber se estão fazendo a coisa certa e se Shiloh é uma criança transexual. Uma fonte próxima do casal declarou que o médico declarou que eles estão certos em permitir que a criança se vista como quiser e diz que a identidade de gênero vai se definir com o passar dos anos. E, caso seja um garoto trans, o acolhimento e o respeito são sempre as melhores opções.
BRINCAR COM TUDO
Martin e Lisa, os pais ingleses de Max Price, de um aninho, permitem e estimulam que o filho brinque com todos os tipos de brinquedo, longe do estereótipo “coisa de menino ou menina”. Sendo assim, o pequeno brinca com aviões, carrinhos e dinossauros, e também com as Barbies e tutu rosa. Lisa declarou que decidiu investir numa educação plural depois de se cansar de ler notícias de violência contra a mulher e estupros. “Esse tipo de violência acontece porque os homens são estimulados a imporem sua vontade sobre o que acham ser o sexo frágil. Definitivamente, não quero que meu filho cresça assim”.
Sobre os comentários de que o filho possa ser LGBT, a mãe declara: “Não importa se ele é bissexual, gay, hetero, transex, ou o que for. Não coloquei meu filho no mundo para dizer ‘só vou te amar se você seguir esse gênero’. Vou te amar de qualquer forma”. Que tudo!
SORRISO NO ROSTO É A MELHOR RESPOSTA
Emma Symonds, de 33 anos, escutou de um dos filhos gêmeos, Logan, de 4 anos, que é uma menina. Ela passou a permitir que a criança faça aquilo que sente mais a vontade e declarou que a ama, independente da roupa. “Não há explicação para ele. Logan é apenas Logan”. A família toda a apoia e a relação com o gêmeo é afetuosa e maravilhosa. As críticas aparecem de estranhos e, ao comentar se tem dúvidas de que está fazendo a coisa certa, ela diz: “Quando vejo um sorriso no rosto de Logan, penso: ‘Como isso pode ser errado?’”.
Viu outra família exemplo? Deixe nos comentários!