Manuela D’Avila: “O meu Feminismo é aquele que luta para manter a igualdade” Foto: Henrique Brazão | @minerobrazao
Por Lívia Mota e Marília Beluchi
Embaixo da mesa, os rastros da chuva da tarde. As marcas de barro eram o tapete da mesa de autógrafos de Revolução Laura e de sua autora, a Jornalista, Política e Ex-Deputada Federal, Manuela D’Ávila, no último dia 16, em Campinas. Como decoração, uma única e inteira foto viva de mãe e filha. Nada mais e tudo o que era necessário: ideias, ideais, força, revolução e amor.
Manuela passou por Campinas para dois encontros no mesmo dia. Mais cedo, na Unicamp, participou de uma palestra sobre fake news e, no início da noite, realizou uma sessão de autógrafos de seu livro recém-lançado, emendada de um bate-papo sobre resistência e maternidade.
Com uma fala muito próxima e descontraída, com direito a guarda-chuva para se proteger da garoa que também quis ouvi-la, Manuela destacou os principais pontos do livro que narra sua trajetória como candidata a vice-presidente da República, com um bebê no colo.
“O livro não é teórico. O livro é sobre amor. É sobre viver a militância com a dureza dela, mas criando uma pessoa melhor para o mundo. É a minha vivência da maternidade com os privilégios que tenho, que nada mais são do que direitos que todos deveriam ter”, explicou a autora.
Reforçou também sobre o nosso papel no mundo junto aos filhos, pois, assim, permitimo-nos existir. Manuela tem a visão de que os filhos se envolvem com a resistência de diversas formas. É exatamente sobre isso que se trata o livro: de vivermos a militância com a dureza que ela tem, criando assim, pessoas melhores.
Durante sua campanha, Manuela conta que pensou em desistir muitas vezes pela violência a qual ela e a filha eram frequentemente expostas. “A existência da minha maternidade e uma criança não são permitidas. Comecei a candidatura com a Laura amamentando e me achavam uma louca. Pensei em desistir muitas vezes, mas algo acontecia e eu continuava. Milhares de mães perceberam que era possível fazer política, que era, sim, um caminho para elas também. Ou levando seus filhos com elas ou saindo de casa à noite sem eles. Era um estímulo para elas”.
“Não haverá mudança e resistência se as mulheres não ocuparem o poder” Foto: Henrique Brazão | @minerobrazao
Mulheres e política
Manuela fala, sobretudo, da força que as mulheres têm para manter as coisas sozinhas. Para ela, somente a tomada do espaço público pelas mulheres é que permite que elas existam. “Nós precisamos ocupar os lugares. A Laura precisa estar presente. Nós estamos em um governo que não permite a nossa existência”.
Em sua fala, Manuela defende o poder exercido por pessoas comuns e não por mártires. Ainda, reforça que o Brasil é um país muito desigual e que fatores como raça e gênero são desestruturantes, que o desemprego e a violência com mulheres negras e com LGBTI’s aumentou drasticamente com o passar dos anos. Reitera que não irá existir mudança e resistência se as mulheres não ocuparem o poder e, para isso, todas têm que estar juntas.
Feminismo para quem?
Manuela acredita que o exercício de igualdade deve ser exercido por todos: “Minha luta é para que mulheres e homens possam chegar onde quiserem. Esse é o meu feminismo.”
No debate – que durou cerca de 50 minutos -, Manuela diz que cuidar de uma criança não é apenas um gesto de amor. É também um trabalho não reconhecido pela sociedade, ou seja, não debatido.
Logo após, respondeu algumas questões sobre política e maternidade. Justifica que o parâmetro do poder é aquele em que todos possam existir. Acredita também que todos devem ser grandes líderes e que esse poder deve ser exercido por pessoas comuns e, por esse motivo, todos têm que estar lá.
Finalizou agradecendo a todos pelo afeto. Declarou que toda a coragem transmitida pelas pessoas que estão juntas a ela, é o que ainda a faz seguir adiante. E a chuva se foi. Deixando também sua mensagem de que uma gota já é um grito de guerra para aqueles que querem nos calar.
Foto: Henrique Brazão | @minerobrazao Foto: Henrique Brazão | @minerobrazao