Morte de refugiada Roxsana Hernández nos EUA expõe violações sofridas por imigrantes trans admin Fevereiro 12, 2019

Morte de refugiada Roxsana Hernández nos EUA expõe violações sofridas por imigrantes trans

A morte da mulher trans Roxsana Hernández Rodriguez, 33 anos, dentro de uma prisão da Agência de Imigração e Alfândega (ICE) expôs ao mundo a situação de extrema vulnerabilidade e violência que mulheres imigrantes são submetidas, sobretudo quando passam pelo agravante da transfobia.

Segundo a família, Roxsana saiu de Honduras em busca de refúgio nos Estados Unidos. Ela foi detida no dia 13 de maio no porto de San Ysidro, transferida para uma ala para pessoas trans no Novo México no dia 16. Ela teria sido agredida dentro da ICE e teve o socorro negado pelas autoridades americanas.

A Ong Pueblo Sin Fronteiras, que organizou a caravana da migrantes em que ela participou, informa que Hernández se tornou refugiada para fugir da “violência, ódio, estigma e vulnerabilidade” por ser uma mulher trans. Ela já havia ido aos Estados Unidos ilegalmente outras duas vezes, em 2005 e 2009. Na primeira ela voltou voluntariamente e, na outra, foi deportada.

Nesta ocasião, os advogados dizem que ela foi detida pela ICE e foi tendo sua condição física deteriorada com o passar dos dias. Testemunhas que acompanharam as prisões declaram que Roxsana foi encarcerada em uma cela com temperatura extremamente fria chamada de “caixa de gelo”. Ela chegou a pedir ajuda médica, alegando ser soropositiva, mas só foi atendida depois de passar diversos dias com vômitos e diarreia constantes.

No dia 17, Roxsana deu entrada no Hospital Cibola com sintomas de pneumonia, desidratação e complicações associadas ao HIV, informa a ICE. Horas depois, foi transferida de helicóptero para Lovelace, onde ficou internada na UTI. Ela teve a morte anunciada dia 25 de maio.  O motivo da morte, segundo a Ice, foi uma parada cardíaca.

Mas, mediante a uma autópsia particular, a organização Transgender Law Center conferiu que a refugiada foi vítima de “complicações severas da desidratação”, agravadas pela infecção do HIV. A autópsia também divulgou que havia marcas no corpo de Roxsana, ocasionadas possivelmente por algemas apertadas em seus pulsos e espancamento nas costas e no abdômen.

A organização enviou uma notificação por escrito retratando a lesão corporal e equivocada da morte pela ICE e entrou com uma ação judicial. “Evidência forense indica que ela foi algemada tão firmemente que sofreu lesões profundas no tecido da pele, além de ter sido atingida repetidamente nas costas e nas costelas por chutes ou objeto contundente, enquanto suas mãos estavam presas atrás das costas”, escreveram os advogados.

Diante do caso exposto na grande mídia, a Agência de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos disse que a validade da autópsia e as alegações de abuso são falsas. “Uma revisão de morte Hernández, conduzida pelo serviço médico da ICE, confirmou que ela sofria com histórico de HIV não tratado. Em nenhum momento as equipes médicas levantaram suspeita de abuso físico”.

O hospital Cibola garante que funcionários completam 160 horas de treinamento, com dinâmicas educativas contra abuso sexual, assédio, e respeito a minorias, incluindo pessoas trans. Porém, para a ONG Transgender Law Center, o atendimento que Roxsane recebeu na prática e que puderam ser vistos em seu corpo está longe daquele divulgado no discurso. “Sua morte era totalmente evitável”, declarou Lynly Egyes, diretora de litígio da ong, em comunicado.

Além de Hernández havia outras 24 pessoas trans nesta mesma caravana de Pueblo Sin Fronteiras. Diante do caso envolvendo Rozsane, a ong apura e investiga os tratamentos destinados às mulheres trans refugiadas.