Aos 19 anos, Valentina Sampaio continua arrasando na carreira de modelo. Depois de ser porta-voz da L’Oréal Paris e desfilar no São Paulo Fashion Week neste ano, a bela estampa a mais nova capa da revista de moda Elle. É a primeira da sua carreira.
Na publicação, ela posa para um editorial do fotógrafo Gui Paganini e também fala sobre a infância e adolescência em Aquiraz, no Ceará, como foi descoberta na profissão, o fato de ser uma mulher transexual e a nova vida em São Paulo.
A modelo afirma que desde pequena sempre soube que era uma mulher e que aos 8 anos pediu para que todos a chamassem de Valentina. Diferente da história trágica de muitas trans, os familiares e amigos a entenderam e a apoiaram. “Tive sorte pelos meus pais em amarem e me respeitarem do jeito que eu sou”.
Valentina em sua primeira capa |
Nem mesmo na escola ela tem uma história de bullying para contar. “Sempre foi uma coisa muito natural. Se eu dizia que era uma menina, como poderia não ser? Passava despercebida e ao mesmo tempo era muito popular”, contou, dizendo que foi a mãe que pediu para que usassem o nome social na chamada da escola.
UMA ANGEL
Aos 16 anos, a bela cursava faculdade de moda paga pelos pais e, em seguida, mudou para a de arquitetura. Em 2014, desfilou para uma coleção de uma amiga da faculdade em Fortaleza e foi lá que acabou sendo descoberta. E entrando para o mundo da moda.
“Nunca tinha pensado em ser modelo. Mas hoje quero fazer trabalhos mais importantes e ser Angel da Victoria’s Secret”, declarou.
Após conquistar destaque e visibilidade na mídia, ela afirma que passou a ser alvo de preconceito e comentários transfóbicos – tanto que seu perfil no Facebook é fechado. “Pude ver o quanto as pessoas são cruéis. Doeu bastante, me machucou, mas resolvi não me abater com isso. Tanto que estou aqui, dando entrevista de novo”, declarou rindo.
Enquanto o preconceito contra travestis e transexuais não termina, ela diz ser importante falar sobre o assunto. “É uma coisa que precisa ser discutida para que deixe de ser tabu em algum momento. As pessoas precisam aprender que o ser humano é diverso e que a gente se ama do mesmo jeito”.
DOCUMENTAÇÃO E CIRURGIAS
As dificuldades que enfrentou giraram em torno da documentação – que ela fazia de tudo para não mostrar. “Era uma coisa que me doía”, revela. Há seis meses, ela entrou com uma ação judicial para retificar nome e gênero dos documentos e teve a sentença favorável. “Foi como me livrar de um peso muito grande”.
Questionada se passou pela cirurgia de redesignação sexual (genital), a modelo declarou que não irá responder se fez ou se pretende fazer. “É um assunto muito íntimo e que não interfere nada em quem eu sou. Desde criança tenho certeza de que nenhuma mudança vai me fazer sentir mais ou menos mulher”.
A reportagem finaliza com ela dizendo que se sente mais confortável em um biquíni que em qualquer vestido de marca. Que tiro!