Por Théo Souza e Isabel Codá de Simas
* Portal Transgêneros BR
O Dia Nacional da Visibilidade Trans ocorre no dia 29 de janeiro. A data foi escolhida porque 27 travestis, mulheres e homens trans entraram no dia 29 de janeiro de 2004 no Congresso Nacional em Brasília para lançar a campanha “Travesti e Respeito: já está na hora dos dois serem vistos juntos. Em casa. Na boate. Na escola. No trabalho. Na vida.”, que foi elaborado por elas e eles. Foi uma ação histórica e importante dentro do espaço de poder na luta em prol da população trans e travesti.
Desde então podemos entender a necessidade da comemoração desse dia e da consciência de sua importância, visto que, 15 anos após o lançamento da primeira campanha voltada à população trans, o Brasil continua sendo o país que mais os mata, segundo dados da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) e IBTE (Instituto Brasileiro Trans de Educação), apesar de todas nossas conquistas ao longo dos anos.
Sabe-se que o estigma de pessoas trans existe há muito tempo, mesmo que recentemente esse tema tenha sido colocado em pauta, de forma positiva (mas muitas vezes equivocada), pela mídia – contudo a realidade mostra que a ignorância que prevalece. Já em 2019 houveram casos de transfobia verbal e até assassinatos revoltantes com requintes de crueldade.
O músico Nego do Borel demonstrou total ignorância ao tratar a youtuber Luisa Marilac com pronomes masculinos com intensão de deslegitimar o seu gênero, através de transfobia mascarada de “brincadeira”. Esse tipo de atitude leva a situações extremas como, dentre outros, o caso alarmante de homicídio ocorrido em Campinas no dia 21/01, no qual o delinquente alegou que a vítima era “um demônio”. Outro ocorrido foi o suicídio de um casal transmasculino não-binário (próximos aos administradores da página), que representou, também, a importância da visibilidade não-binária, até mesmo no dentro do meio trans, o que comprova a necessidade de aprofundarmos nossos debates sobre as pautas não-binárias.
Entretanto houve avanços como a retificação do nome de registro em território nacional (sem necessidade de laudo ou ter realizado cirurgia transgenitalizadora), a eleição de Erica Malunguinho (PSOL-SP), Erika Hilton (Bancada Ativista/PSOL-SP) e Robeyoncé Lima (Juntas/PSOL-PE), deputadas estaduais, e a escalação de uma atriz transgênero Glamour Garcia para a próxima novela das 21h da rede Globo.
Outro ponto positivo, recente, é a conquista da permissão do TSE do uso do nome social para candidatos e eleitores. O trabalho de Bruna Benevides com o lançamento do Dossiê dos assassinatos e violência contra travestis e transexuais no Brasil, elaborado sobre o ano de 2018, que será lançado na VI Semana Nordestina da Visibilidade Trans de 2019; além de seu trabalho com o PreparaNem estar surtindo resultados para o ingresso de pessoas trans no ensino superior este ano.
Para mantermos estas conquistas e avançarmos em nossas pautas é importante que estejamos unidos e atentos à nossa conjuntura política, principalmente quando um deputado federal alinhado com nossos interesses (uma vez que foi o autor, com Erika Kokay, da PL 5002/2013, o projeto de lei João W. Nery, a Lei de Identidade de Gênero) tem a necessidade de ser exilado do Brasil. O apoio a artistas trans, mais evidenciados pela atual visibilidade trans nacional, é de extrema importância; nomes como Urias, Liniker, Mc Xuxu, Mulher Pepita, Maria Clara Spinelli e etc devem ser sempre lembrados e exaltados.
Apesar das adversidades já encontradas no novo ano, é importante nos fortalecermos e nos unirmos para garantir e fomentar a visibilidade trans de forma mais justa e correspondente com a realidade. Além disso é de extrema importância reconhecermos e respeitarmos a pluralidade de gêneros existentes na população trans, para que não acabemos caindo na norma gerada por padrões impostos pelo cistema que perpassam nossos corpos transgêneres.
* O texto foi escrito por Théo Souza e Isabel Codá de Simas, do perfil no Instagram Portal Transgêneros BR. Trata-se do mais novo parceiro do NLUCON. Você pode conferir outras postagens clicando aqui.
Théo Souza e Isabel Codá de Simas