Thammy Miranda deve assumir a partir de março uma vaga na Câmara de Vereadores de São Paulo. Será o primeiro homem trans a ser vereador e a expectativa em cima do que o atual palestrante e coach (funções atualizadas dele que estão em seu Instagram) é grande, sobretudo pelos passos que tomou (e não tomou) desde as eleições.
Ele concorreu nas eleições de 2016 pelo PP, que até então tinha como representante Jair Bolsonaro (hoje do PSL), e focou no discurso da diversidade. Seu slogan era Thammy Junto. Com 12.408 votos, tornou-se suplente e agora assume a vaga do eleito Conte Lopes, que foi eleito deputado estadual.
O novo cargo tem levantado alguns questionamentos, uma vez que Thammy se afastou do interesse por política após não conseguir se eleger em 2016. Raramente faz posts de cunho ativista ou político, minimizou as críticas ao escolher o partido e chegou a se negar a participar do movimento #EleNão nas eleições presidenciais. Em 2017, após ver que parte da militância LGBT não apoiava sua participação na Parada de Porto Alegre, declarou: “não faço mais parte da luta pelo movimento LGBT como representante político”.
Por outro lado, há quem confie na representatividade de Thammy (o fato de ser um homem trans, sentir na pele e saber das demandas) e na simpatia que ganhou pela história de vida pública ao lado da mãe, a cantora Gretchen, em que levou a mensagem de acolhimento às famílias LGBT, e da esposa Andressa Ferreira, com quem planeja ter um filho neste ano. Thammy pode não ter se posicionado politicamente, mas suas participação na mídia e a maneira como combate a transfobia direcionada a ele nas redes sociais ajudou muita gente a se identificar e não atrapalha o movimento.
Outro ponto que fez muita gente respirar aliviada é que, ao anunciar o novo cargo, ele retomou o discurso de querer fazer política para todos e de inclusão para quem se sente excluído e é invisível. Num cenário em que pessoas LGBT apoiam o conservadorismo – vide Fernando Holiday, único gay cis assumido e que se posiciona contra as demandas do movimento LGBT – é de se respirar aliviado que Thammy não seja mais um desses e que permaneça apoiando a comunidade LGBT. Ele também tem procurado ativistas LGBT para sua equipe, bem como o chefe de gabinete Agripino Magalhães.
Ao UOL, Thammy declarou que “Num governo ‘tão conservador’, eu assumo como vereador. Acho que Deus quis dizer algo com isso. Eu acredito muito em Deus”, disse. E é nesse cenário, de discurso em prol da diversidade e o de alfinetar os discursos conservadores apoiados no fundamentalismo religioso que Thammy se prepara para assumir a cadeira. O que se desenhará desse mandato ainda não é possível saber. Na porta de entrada, já se deparou com uma mensagem Carlos Bolsonaro, que disse não importar com sua opção sexual (sic – no caso é identidade de gênero), desejou bom trabalho e o tratou no feminino, desrespeitando sua identidade de gênero masculina.
Que Thammy tenha sabedoria e garra para lidar com as adversidades e transfobias da política, que seja de fato essa voz que prometeu ser e que a partir de agora consiga mergulhar mais profundamente nessas demandas politicamente – e não rejeitá-las na medida em que suas expectativas pessoais não forem alcançadas. A gente continua torcendo, acompanhando e pronto para divulgar os próximos passos. Thammy junto!